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AAFAU - Associação dos Agricultores Familiares do Alto Urupadí

A Aafau

A Associação dos Agricultores Familiares do Alto Urupadí (Aafau) é uma organização de base comunitária voltada para o resgate das tradições ancestrais do cultivo de guaraná. São responsáveis pela produção do Guaraná Urupadí, que em 2019 conseguiu a sua certificação orgânica por auditoria e assim começou a acessar novos mercados. Fundada em 2015, o objetivo da Aafau é alcançar mercados mais vantajosos, fortalecendo a organização coletiva, empoderando comunidades locais e valorizando o sistema de produção agroecológica da região.

Maués

Conhecido como Terra do Guaraná, Maués é pioneiro na cultura dessa espécie. Foram os indígenas Sateré-Mawé, habitantes imemoriais da região, que domesticaram e criaram o processo de beneficiamento do guaraná.

Atualmente, o município é o segundo maior produtor de guaraná do Amazonas.

Mas é o município com maior número de estabelecimentos da agricultura familiar que cultivam tradicionalmente o guaraná, com mais de 990 estabelecimentos (IBGE, 2007).

Conhecimentos tradicionais e Sistema Agrícola Tradicional do Alto Urupadí

Ao contrário do plantio em larga escala — feito a partir de mudas clonadas e reproduzidas pelo processo de estaquia — o cultivo tradicional envolve o conhecimento da floresta e a seleção de mudas nativas.

Isso faz dos guaranazais uma espécie de banco de agrobiodiversidade, com imensa variedade genética, e abre a possibilidade de alcançar novos e promissores mercados para os produtos de sistemas agrícolas tradicionais.

Desafios

Entretanto, apenas recentemente o guaraná de Maués foi comercializado para além das fronteiras do município. Quase toda a produção era encaminhada para o setor de bebidas ou para uma rede de atravessadores.

“Nós, produtores, fazíamos um trabalho imenso. [...] Chegava no porto de Maués e passava na mão do atravessador com um preço que não compensa, nem sequer paga as despesas do guaraná”

José Cristo Viana, presidente da Aafau

Fundação da Aafau e gestão

Em sua história, a Aafau sempre contou com parcerias estratégicas para apoiar o seu desenvolvimento.

Em 2015, a Aafau estabeleceu parceria com o Núcleo de Socioeconomia da Universidade Federal do Amazonas (Nusec/Ufam) e com o Instituto Acariquara.
A assessoria técnica identificou alguns dos principais desafios enfrentados pela organização: controle da produção; gestão administrativa, apresentação dos produtos e inserção no mercado; necessidade de agregação de valor; e falta de capital de giro para investir em infraestrutura de estocagem.

Controle social orgânico

O apoio dos pesquisadores da Ufam também foi importante na constituição da Aafau como uma Organização de Controle Social (OCS), reconhecimento de procedência orgânica de produtos da agricultura familiar.

Isso possibilitou aos produtores receber até 30% a mais na venda direta de seus produtos em feiras ou para o governo
— como no caso do fornecimento de produtos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

Beneficiamento secundário

Em Maués, a maior parte do guaraná é comercializada como grão torrado (guaraná em rama), destinado às agroindústrias, e transformado em extrato para produção de refrigerantes e outras bebidas.

Já os produtos beneficiados de forma artesanal — o guaraná em pó, o bastão, o xarope e o licor de guaraná, além de terem grande importância econômica e social, principalmente no consumo cultural diário, são vendidos a preços mais atraentes. 

Parcerias e reconhecimento

Outra importante parceria que trouxe reconhecimento e projeção foi com o Conselho Indigenista Missionário e a com Paróquia Nossa Senhora da Conceição, de Maués.

Desse contato, resultou um convite especial: em 2019, a Aafau foi convidada a participar do Sínodo de Roma, uma assembleia de bispos dedicada à Amazônia.

Eles presentearam o Papa com uma muda de guaraná, plantada no jardim do Vaticano. E aproveitaram a viagem à Europa para denunciar o desmatamento e divulgar o guaraná da Aafau como um produto dos povos originários

Rede de Negócios Sustentáveis do Urupadí

Nesse mesmo ano, surgiu a Rede de Negócios Sustentáveis do Urupadí (Renesu), projeto da Ufam que tem por objetivo implementar um consórcio de produção, comercialização e consumo sustentável entre comunidades tradicionais.

A Rede conta com a participação da iniciativa privada, de instituições de ensino

Comercialização e participação em feiras

A comercialização em mercados mais promissores é um constante desafio da Aafau. Desde 2015, a Associação participa da Agroufam, no campus universitário da Ufam, em Manaus.

A experiência em feiras de diferentes estados e países impulsionou o processo de certificação orgânica.

O exemplo e motivação dos membros do consórcio dos Sateré-Mawé também foi fundamental nessa empreitada.

Proposta de Unidade de Conservação Urupadí-Parauari

Os esforços de melhor comercialização se somam aos esforços de gestão territorial e empoderamento político.

O avanço dos madeireiros sobre os territórios tradicionalmente ocupados levou os moradores do Alto Urupadí a pleitearem a criação de uma Unidade de Conservação (UC) na região, do tipo Reserva de Desenvolvimento Sustentável, em 2018.

A UC é uma forma de preservar o território, as matrizes selvagens de guaraná e de outras plantas nativas.